domingo, 6 de janeiro de 2019

Algumas palavras solares



Um Olá a todos,

Estive pensando em fazer algo que nunca tinha feito: escrever sobre o que faço. Falar sobre meu trabalho com a observação solar de forma mais ampla. É engraçado que nesses quase cinco anos de projeto ainda não fiz isso por escrito aqui neste blog. Já há um bom tempo que deixo claro que o Solar Calc não visa apenas estudar o Sol, mas também divulgar e cativar a prática da astronomia. E tenho feito muito disso, considerando os limites financeiros e de tempo que há na vida de um estudante. Mas é fato. Neste espaço não tenho mostrado muito esse outro lado do projeto. Sendo assim, penso que seja melhor começar pelo começo.

            Por que faço todas essas “coisas solares”? Bem... A raiz de tudo está na curiosidade que tenho desde criança e que é cultivada desde então por todos à minha volta, em especial a minha família. Mas não posso deixar de lado o meu péssimo hábito de sempre preferir fazer tudo do modo mais difícil. Essa, realmente, é a característica que mais me define. E também o que fez isso tudo ser real.

Como qualquer um, sempre fui encantado com o céu noturno e tive muitos devaneios sobre como seria explorar tudo aquilo que está tão distante. Não posso deixar de agradecer ao grande Carl Sagan e sua série de TV “Cosmos”, à qual assisto desde que me entendo como ser humano. Realmente a TV Escola fez maravilhas para a minha infância ao reprisar aquela série com muita frequência.

Mas, voltando ao péssimo hábito de fazer tudo do modo mais difícil, temos que falar do Sol. Você pode admirar a Lua e as estrelas sem nenhum problema, mas com a nossa estrela mais próxima isso é um pouco mais difícil. Com um pequeno telescópio você pode admirar as crateras lunares, alguns planetas a até mesmo umas poucas luas de Júpiter. Mas, com a falta de conhecimento, o Sol ainda fica inalcançável. Sempre foi o mais difícil. “Como admirar o Sol sem ferir meus olhos?” é uma questão que nunca pode ser descartada. De fato, eu poderia simplesmente deixar para lá e me contentar com o maravilhoso trabalho de grandes astrofotógrafos do mundo inteiro. Mas, por querer sempre tudo do modo mais difícil, a vontade de ver por mim mesmo sempre se manteve firme.

Com o Clube de astronomia de Campos e os Encontros Internacionais, essa vontade de fazer por mim mesmo sempre se manteve muito firme. E, para piorar, num certo dia em uma edição desse grande evento anual, um grande homem e de enorme peso na astronomia solar disse que “Qualquer um pode fazer fotos do Sol”. Enquanto a plateia ria ironicamente das palavras do Stephen Ramsden, eu estava lá me sentindo desafiado e, como sempre, tendo devaneios sobre como seria se eu alcançasse aquilo. Não me canso de falar até hoje sobre o quão grato sou por aquela provocação.

A partir daí eu comecei a pesquisar sobre as melhores formas de se fazer projeção solar com meu pequeno telescópio e vim a descobrir que os telescópios pequenos são os ideais para tal, já que a entrada de luz é menor e há menos risco de superaquecer as lentes do equipamento.

Meses depois, eu já estava com um filtro solar graças ao Clube de Astronomia Louis Cruls, de Campos RJ. Com esse equipamento, eu pude finalmente observar diretamente a fotosfera solar e me encantar com as manhas solares. E aquele encanto foi se tornando maior a cada dia ao ver que aquelas coisinhas estavam mudando todo dia. Foi ai que senti a vontade de começar a registrar. Então, comecei da forma mais simples, e também mais difícil, possível a tirar fotos do Sol. Uma câmera compacta e simples alinhada na frente da ocular do telescópio tendo como apoio apenas minhas mãos. Foi assim que começou. E as fotos eram simplesmente horríveis. Mas, assim como tudo na vida, com o tempo e a prática, foram ficando bem melhores. Com as orientações iniciais do professor Marcelo Oliveira, coordenador do clube de astronomia, eu pude começar a engatinhar nessa vida de observador solar. O primeiro registro oficial dos meus relatórios data do dia 10 de junho de 2015.
O resto da história já é fácil de imaginar. Mas, voltando à proposta desse texto: Por quê? Por que fazer isso tudo mesmo com todos os desafios? Por que observar o Sol todos os dias e compartilhar com todos? Por que visitar escolas e incentivar a curiosidade sobre a astronomia? Por que escrever isso? Por que ser um observador solar? Bem... Todas essas questões possuem a mesma resposta: é algo que precisa ser feito.

Um observador solar é aquele que se dedica a realizar a observação sistemática do Sol diariamente. Ele realiza análises e registros das características diárias do Sol. Esses registros podem ser feitos tanto em desenho quanto em fotografia. Infelizmente, no Brasil, há pouquíssimos observadores solares. O número de observadores solares brasileiros hoje de que tenho notícia literalmente pode ser contado em uma única mão. Sobre o que me motiva a ser um observador solar... Bem. Não há como negar que a vontade de que no futuro haja mais observadores brasileiros não me motive. E para isso acontecer é necessário que as pessoas saibam mais sobre nossa estrela. E, para mim, é muito mais seguro se falar sobre algo quando você é um estudioso daquilo. E por isso o Solar Calc segue seu trabalho da maneira que pode. Por isso faço o que faço da maneira que posso. E sinto orgulho da proporção que isso lentamente tem tomado se tratando de um projeto que como incentivo recebe apenas o apoio moral, que é algo maravilhoso, pois muito já foi feito. E nesse ano de 2019, apesar dos pesares, muito seguirá sendo feito.

Céus limpos e dias ensolarados para todos nós!
- Caio Crespo Moraes

3 comentários:

  1. Parabéns pela iniciativa e projeto. Em novembro proximo com o trânsito de Mercúrio seria interessante desenvolver alguma atividade/divulgação em especial para a observação do Sol.

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  2. Muito obrigado! Sim sim! Esse fenômeno não passará em branco.

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  3. Incrível trabalho! Parabéns! Adoro astronomia, vou continuar acompanhando seus trabalhos.

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