Um
Olá a todos,
Estive
pensando em fazer algo que nunca tinha feito: escrever sobre o que faço. Falar
sobre meu trabalho com a observação solar de forma mais ampla. É engraçado que nesses
quase cinco anos de projeto ainda não fiz isso por escrito aqui neste blog. Já
há um bom tempo que deixo claro que o Solar Calc não visa apenas estudar o Sol,
mas também divulgar e cativar a prática da astronomia. E tenho feito muito
disso, considerando os limites financeiros e de tempo que há na vida de um
estudante. Mas é fato. Neste espaço não tenho mostrado muito esse outro lado do
projeto. Sendo assim, penso que seja melhor começar pelo começo.
Por que faço todas essas “coisas
solares”? Bem... A raiz de tudo está na curiosidade que tenho desde criança e
que é cultivada desde então por todos à minha volta, em especial a minha família.
Mas não posso deixar de lado o meu péssimo hábito de sempre preferir fazer tudo
do modo mais difícil. Essa, realmente, é a característica que mais me define. E
também o que fez isso tudo ser real.
Como
qualquer um, sempre fui encantado com o céu noturno e tive muitos devaneios
sobre como seria explorar tudo aquilo que está tão distante. Não posso deixar
de agradecer ao grande Carl Sagan e sua série de TV “Cosmos”, à qual assisto
desde que me entendo como ser humano. Realmente a TV Escola fez maravilhas para
a minha infância ao reprisar aquela série com muita frequência.
Mas,
voltando ao péssimo hábito de fazer tudo do modo mais difícil, temos que falar
do Sol. Você pode admirar a Lua e as estrelas sem nenhum problema, mas com a
nossa estrela mais próxima isso é um pouco mais difícil. Com um pequeno
telescópio você pode admirar as crateras lunares, alguns planetas a até mesmo
umas poucas luas de Júpiter. Mas, com a falta de conhecimento, o Sol ainda fica
inalcançável. Sempre foi o mais difícil. “Como admirar o Sol sem ferir meus
olhos?” é uma questão que nunca pode ser descartada. De fato, eu poderia
simplesmente deixar para lá e me contentar com o maravilhoso trabalho de
grandes astrofotógrafos do mundo inteiro. Mas, por querer sempre tudo do modo
mais difícil, a vontade de ver por mim mesmo sempre se manteve firme.
Com
o Clube de astronomia de Campos e os Encontros Internacionais, essa vontade de
fazer por mim mesmo sempre se manteve muito firme. E, para piorar, num certo
dia em uma edição desse grande evento anual, um grande homem e de enorme peso
na astronomia solar disse que “Qualquer um pode fazer fotos do Sol”. Enquanto a
plateia ria ironicamente das palavras do Stephen Ramsden, eu estava lá me
sentindo desafiado e, como sempre, tendo devaneios sobre como seria se eu
alcançasse aquilo. Não me canso de falar até hoje sobre o quão grato sou por
aquela provocação.
A
partir daí eu comecei a pesquisar sobre as melhores formas de se fazer projeção
solar com meu pequeno telescópio e vim a descobrir que os telescópios pequenos
são os ideais para tal, já que a entrada de luz é menor e há menos risco de
superaquecer as lentes do equipamento.
Meses
depois, eu já estava com um filtro solar graças ao Clube de Astronomia Louis
Cruls, de Campos RJ. Com esse equipamento, eu pude finalmente observar diretamente
a fotosfera solar e me encantar com as manhas solares. E aquele encanto foi se
tornando maior a cada dia ao ver que aquelas coisinhas estavam mudando todo dia.
Foi ai que senti a vontade de começar a registrar. Então, comecei da forma mais
simples, e também mais difícil, possível a tirar fotos do Sol. Uma câmera
compacta e simples alinhada na frente da ocular do telescópio tendo como apoio
apenas minhas mãos. Foi assim que começou. E as fotos eram simplesmente
horríveis. Mas, assim como tudo na vida, com o tempo e a prática, foram ficando
bem melhores. Com as orientações iniciais do professor Marcelo Oliveira, coordenador
do clube de astronomia, eu pude começar a engatinhar nessa vida de observador
solar. O primeiro registro oficial dos meus relatórios data do dia 10 de junho
de 2015.
O
resto da história já é fácil de imaginar. Mas, voltando à proposta desse texto:
Por quê? Por que fazer isso tudo mesmo com todos os desafios? Por que observar
o Sol todos os dias e compartilhar com todos? Por que visitar escolas e
incentivar a curiosidade sobre a astronomia? Por que escrever isso? Por que ser
um observador solar? Bem... Todas essas questões possuem a mesma resposta: é
algo que precisa ser feito.
Um
observador solar é aquele que se dedica a realizar a observação sistemática do
Sol diariamente. Ele realiza análises e registros das características diárias
do Sol. Esses registros podem ser feitos tanto em desenho quanto em fotografia.
Infelizmente, no Brasil, há pouquíssimos observadores solares. O número de
observadores solares brasileiros hoje de que tenho notícia literalmente pode
ser contado em uma única mão. Sobre o que me motiva a ser um observador
solar... Bem. Não há como negar que a vontade de que no futuro haja mais
observadores brasileiros não me motive. E para isso acontecer é necessário que
as pessoas saibam mais sobre nossa estrela. E, para mim, é muito mais seguro se
falar sobre algo quando você é um estudioso daquilo. E por isso o Solar Calc
segue seu trabalho da maneira que pode. Por isso faço o que faço da maneira que
posso. E sinto orgulho da proporção que isso lentamente tem tomado se tratando
de um projeto que como incentivo recebe apenas o apoio moral, que é algo
maravilhoso, pois muito já foi feito. E nesse ano de 2019, apesar dos pesares,
muito seguirá sendo feito.
Céus
limpos e dias ensolarados para todos nós!
- Caio
Crespo Moraes
Parabéns pela iniciativa e projeto. Em novembro proximo com o trânsito de Mercúrio seria interessante desenvolver alguma atividade/divulgação em especial para a observação do Sol.
ResponderExcluirMuito obrigado! Sim sim! Esse fenômeno não passará em branco.
ResponderExcluirIncrível trabalho! Parabéns! Adoro astronomia, vou continuar acompanhando seus trabalhos.
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